quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Direção Nacional da APIB intensifica luta contra Portaria 303 da AGU e violação de direitos



APIB contra a Portaria 303 da AGU - A luta continua!

A Direção Nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB se reuniu entre os dias 3 e 6 de setembro, em Brasília, para dar prosseguimento às ações contra a Portaria 303/2012 da Advocacia Geral da União (AGU) e as demais medidas anti-índigenas que tramitam no Congresso Nacional. Os dirigentes se manifestaram sobre o atual quadro de caos que atinge a Saúde Indígena, que dois anos após a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) ainda não apresentou sinais de melhora. Também pressionaram as autoridades por mais segurança frente às ameaças de ataques violentos dos latifundiários em territórios retomados.

O grupo formado pelas lideranças Sonia Guajajara (COIAB), Ulton Tuxá (APOINME), Romancil Cretã (ARPINSUL), Renato Tupiniquim (APOINME) e os coordenadores executivos Marcos Sabaru (APOINME) e Eliseu Guarani (Aty Guasu) realizou reuniões para monitoramento da situação dos indígenas em diversas regiões do país e discutiu estratégias para uma atuação cada vez mais intensa contra o avanço da violação de direitos e das ameaças aos Povos Indígenas. 

Os representantes da APIB também manifestaram especial preocupação com a Saúde Indígena. Foi enviada carta ao Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, com cópia para o Secretário de Saúde Indígena Antonio Alves e o Ministério Público Federal, denunciando  a falta de  estrutura, medicamentos, equipamentos, profissionais e atendimento adequado enfrentada nas aldeias. 


Conselho Nacional de Política Indigenista

Entre as estratégias de defesa contra as crescentes ameaças, a Direção da APIB propõe a instituição, o mais rápido possível, do Conselho Nacional de Política Indigenista, uma instância composta por membros do governo e lideranças, com poder deliberativo sobre as políticas para os indígenas, e cujo Projeto de Lei para sua criação já tem relator e parecer pronto e aguarda apenas a  aprovação no Congresso Nacional.

Eles também defendem que enquanto não for aprovado o PL do Conselho é necessário renovar a composição da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), que já  atua há mais de seis anos, com a realização  de assembléias regionais sob a a coordenação das organizações indígenas e edição de um edital de convocação, sem que seja vedada aos atuais membros a participação na escolha dos novos representantes.  

Portaria 303 e condicionantes

As lideranças da APIB também divulgaram uma carta circular onde explicitam mais uma vez sua posição sobre a suspensão da Portaria 303 e a proposta do governo  de criar um grupo de trabalho (GT) para discutir as condicionantes aplicadas à  Raposa Serra do Sol, e que a AGU pretende estender de forma inconstitucional às demais terras indígenas. 

Leia a Carta Circular da APIB abaixo:




Circular APIB/005/2012

Brasília-DF, 05 de setembro de 2012.
Ref.: Posição da APIB sobre a suspensão da Portaria 303
e proposta do governo de criar GT para discutir as condicionantes

Prezad@s parentes e parentas,

Como é de conhecimento de todos e todas, o Governo Federal, por meio da Advocacia Geral da União (AGU), publicou em 17 de julho do corrente ano a Portaria 303, cujo propósito seria normatizar a atuação das unidades desta Advocacia em relação às salvaguardas institucionais às terras indígenas. A Portaria é praticamente a transcrição literal das condicionantes instituídas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Petição 3.388-Roraima (caso Raposa Serra do Sol).
A reação imediata da APIB foi manifestar publicamente o seu repúdio e exigência pela revogação imediata e integral deste ato autoritário, equivocado e inconstitucional do Governo, pois afronta de forma descarada os direitos originários dos nossos povos, garantidos pela Constituição Federal e por instrumentos internacionais como a Convenção 169 da OIT, que é lei no país desde 2004, e a Declaração da ONU sobre os direitos dos Povos Indígenas.
Diversas instituições, governamentais e não governamentais, personalidades, organizações e movimentos sociais se manifestaram no mesmo sentido. Especial repercussão tiveram as distintas manifestações e mobilizações protagonizadas por povos e organizações indígenas em distintas regiões do país (Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amapá, Pará,  Amazonas, Maranhão etc.), inclusive em Brasília, onde delegações vindas da Bahia, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás ocuparam a sede da AGU, fatos que forçaram o governo a conversar com o movimento indígena em vários momentos. Todas estas delegações se mobilizaram ainda junto aos seguintes órgãos: Ministério da Justiça, Funai, Ministério da Saúde, Senado Federal, Câmara dos Deputados e STF. 
A estas manifestações somaram-se manifestos das lideranças que compõem o Comitê Diretor do Projeto de Gestão Ambiental em Terras Indígenas (GATI), antigo Gef Indígena; o Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais (CONDISIs) e a bancada indígena da Comissão Nacional de Política indigenista (CNPI). O plenário desta Comissão, que inclui a bancada governamental, aprovou no final dos trabalhos uma resolução em que recomenda à AGU a revogação da Portaria 303.
Percebe-se, desta forma, que todas as mobilizações reivindicaram a revogação integral da Portaria, ignorando a proposta da AGU de suspendê-la temporariamente, como foi até o dia 24 de setembro.
As lutas, porém, continuam. Muitas outras mobilizações e manifestos devem acontecer ainda no sul, nordeste e norte do país.
Em resposta a estas ações de indignação e pressão dos nossos povos e comunidades visando à revogação, o Governo propõe; 
1) A suspensão da Portaria  303 “até o julgamento dos embargos de declaração postos contra  a sentença do STF que julgou a ação judicial relativa à Raposa Serra do Sol.”
2) “A criação de um Grupo de Trabalho composto pelo Ministério da Justiça, AGU, Funai, e representantes dos povos indígenas, com o objetivo de discutir as condicionantes estabelecidas na Portaria 303/2012 e outras formas de viabilização de processos de demarcação de terras indígenas”
Estas propostas foram formalizadas por escrito pelo próprio ministro da justiça a uma delegação de lideranças de Mato Groso na sexta feira, 31 de agosto.
A Posição da APIB, reunida em Brasília de 03 a 06 de setembro é profundamente contrária a estas propostas pelas seguintes razões:
1) Somente a suspensão da Portaria não resolve absolutamente nada, pois manterá latente os riscos de conflitos fundiários generalizados no país. Isto é, não implicará no fim da insegurança jurídica, política e social patrocinada pelo latifúndio, o agronegócio e outros setores econômicos (mineradoras, empreiteiras, setor energético) interessados nos nossos territórios e suas riquezas. A suspensão tampouco levará à redução das expectativas dos invasores de continuar ou retornar às nossas terras, inclusive aquelas já homologadas e desintrusadas.
A APIB entende que a suspensão só favorece o governo, que busca preservar a imagem do ministro da AGU, Luis Inácio Adams, que é forte candidato a ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
2) A criação de um GT para discutir a redução dos nossos direitos, especialmente territoriais, é um absurdo. Para que discutir as condicionantes, se além de terem sido criadas para o caso específico da Raposa Serra do Sol, são claramente prejudiciais e não podem ser generalizadas a todas as terras indígenas do país. Além do mais, o STF, ao julgar os embargos de declaração da Raposa Serra do Sol, ainda poderá esclarecer e até alterar as condicionantes.
Por outro lado, a criação de um GT constitui uma incoerência total desse governo, pois como é que ele pretende nos consultar, se a própria Portaria determina que nem as nossas comunidades ou a própria Funai precisam ser consultadas a respeito da ocupação dos nossos territórios por unidades, postos e demais intervenções militares, malhas viárias, empreendimentos hidrelétricos e minerais de cunho estratégico. Nem mesmo o processo de discussão sobre a regulamentação dos mecanismos de consulta estabelecidos pela Convenção 169 da OIT faz sentido neste momento.
Dessa forma, prezados parentes, a APIB considera que devemos seguir nos mobilizando e lutando pela revogação integral da Portaria 303 da AGU. Esperamos e confiamos no bom censo de todos para nos manter unidos em torno desta causa comum.

Pela defesa do direito territorial dos nossos povos!

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

Brasília – DF, 05 de setembro de 2012




por Gustavo Macedo / Ascom APIB

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