quinta-feira, 14 de abril de 2011

Gestão Etnoambiental para nova turma do CAFI


A COIAB - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, através do Centro Amazônico de Formação Indígena, comemora o início de mais uma turma de jovens lideranças que irão dar continuidade ao projeto de fortalecimento de suas organizações, garantindo o protagonismo do movimento indígena na conquista de seus direitos.

A Aula de Inauguração da sétima turma do CAFI aconteceu na manhã desta segunda feira (11), e contou com a participação da coordenação da COIAB entre outros convidados.

O curso de Gestão Etnoambiental tem como foco a questão do meio ambiente, dos impactos das grandes obras para os povos indígenas, preservação e conservação das Terras Indígenas. A junção do conhecimento político e técnico, com os ensinamentos tradicionais, ajuda a construir novas ferramentas de proteção territorial. Valorizando esse meio ambiente que está ligado tanto à sobrevivência física, quanto cultural e cosmológica dos povos indígenas.

Marcos Apurinã, coordenador geral da organização, destacou a importância de mais uma turma do CAFI, que vai poder formar os novos guerreiros do movimento indígena. “É importante a vinda de vocês aqui para aprimorarem, buscar o conhecimento necessário para fazer a luta, em defesa dos direitos dos povos indígenas. O direito a biodiversidade, o direito aos nossos territórios preservados. Aproveitem ao máximo a oportunidade de estarem no CAFI. Pois vocês vão fazer a diferença na base”, profetizou o líder Apurinã.

José Carlos Makuxi comemora a sua entrada no CAFI. “Para mim é motivo de muito orgulho participar dessa turma. Durante 5 anos tentei participar mas como a demanda na região é grande...Hoje pretendo utilizar todos os conhecimentos que eu adquirir aqui para poder contribuir com o meu povo”, afirma emocionado o jovem Makuxi.

Para Luíz Brazão, presidente do conselho fiscal da Associação do CAFI, construir espaços para os povos indígenas é a estratégia que deve ser executada. “O nosso objetivo maior é assumir o desafio da construção da universidade indígena. Seremos os agentes dessa conquista. Movimento indígena, associações, COIAB, alunos. Todos somos peças fundamentais nessa luta”, diz a liderança.

PROTAGONISMO INDÍGENA - O CAFI, que já formou mais de 100 jovens lideranças indígenas para desenvolverem trabalhos de Gestão de Projetos e Gestão Etnoambiental nas suas organizações está em sua sétima turma, e o número de interessados tem crescido a cada semestre. Segundo o diretor do CAFI, professor Francileudo Gabriel, a base da COIAB tem sido contemplada de forma significativa. “Recebemos mais currículos do que na turma anterior. Isso prova que a proposta do CAFI que tem sido discutida nas comunidades gera um interesse de aprendizado nesses jovens. Esse interesse maior, esse nosso alcance na base é um reflexo positivo de um trabalho consistente que é desenvolvido aqui”, comentou o professor.

Nayara Oliveira, do povo Wapichana, diz que o curso de gestão etnoambiental é importante para se discutir práticas de proteção dos territórios. “Em Roraima temos um problema muito sério com relação às queimadas”, revela.

Isaac Xitapapting, do povo Zoró, mora na Aldeia Central Bobyrêj. Ainda um tanto desconfiado, por ser a primeira vez que sai de casa para morar tanto tempo fora (6 meses de duração o curso), aos 18 anos é consciente ao dizer da importância da preservação do território Zoró, que faz parte do Corredor Etnoambiental Mondé-Kwahiba que tem a proposta de criar uma zona contígua de floresta formalmente protegida, o que serviria como tampão contra as pressões intensivas de fronteiras agrícolas vindas de Rondônia no Sudoeste, Mato Grosso no Leste e Amazonas no Noroeste, mantendo altos níveis de diversidade cultural e biológica. “Tem que cuidar senão acaba tudo. O meio ambiente, a nossa mata, os nossos bichos. Tem que cuidar. Madeireiros, garimpeiros, pescadores, invasores, caçadores, fazendeiros invadem e destroem tudo, tudinho mesmo. É triste. Eu não gosto, nem ninguém. Por isso eu vim estudar aqui, para passar lá na comunidade, para os outros também”, afirmou.

Naraicomini Suruí, do povo Paiter, aldeia Tikã, que também faz parte do Corredor etnoambiental garante que o seu aprendizado no CAFI vai ser de muita utilidade em sua organização. “É importante esse curso para se buscar mais conhecimento, mais informação. O povo Paiter tá querendo. E também podemos ensinar”, afirmou.

Joelen Oitaiã, do povo Katukina, disse que está muito feliz com o curso. “É muito bom estar aqui, atrás desse conhecimento, tudo que eu puder aprender aqui quero poder ajudar mais lá na frente. Conhecer as realidades, a cultura de outros povos está sendo muito interessante e desafiador”, disse.

Seguindo esse mesmo pensamento de multiplicar o conhecimento adquirido no CAFI, Eliete Mricaua, do povo Kokamo, garante que essa busca por informação é muito importante para o reconhecimento e identidade do povo Kokamo em Tonantins, no alto Solimões. “O meu povo é muito perseguido na região, as pessoas dizem que não somos indígenas. Está conhecendo o movimento indígena para mim é um passo importante para essa luta”, disse.


VISITA AUSTRALIANA - O evento também contou com a visita de uma Comitiva de cinco Parlamentares Australianos que vieram à Manaus conhecer o trabalho que é desenvolvido pela COIAB. Na visita, os parlamentares puderam conhecer os alunos e um pouco mais da metodologia de trabalho do CAFI e da COIAB. “Para nós é um imenso prazer conhecer a COIAB. É muito importante para todo mundo o trabalho que vocês fazem de proteger a natureza. Isso é bom para todos nós”, afirmou o líder da delegação Australiana, Mr. Harry Jenkins.

O parlamentar australiano comparou a situação dos povos indígenas no Brasil, afirmando que lá na Austrália, o movimento indígena tem avançado de forma bem concreta na conquista e garantia de direitos.

O coordenador da COIAB fala para a delegação sobre a questão de Belo Monte, que já ultrapassou as fronteiras e tem aliados em todas as partes do mundo. “A força política do país quer massacrar os povos indígenas. Mas a nossa resistência é para garantir os nossos direitos. A Amazônia tá sofrendo, tá sangrando. Cada um de nós precisa se comprometer em salvá-la. O nosso pedido aos excelentíssimos parlamentares é que, quando o governo brasileiro for pedir a ajuda de vocês para emplacar esse modelo de desenvolvimento, vocês possam dizer que não, que já conhecem a opinião dos povos indígenas da Amazônia sobre isso”, disse Marcos Apurinã.
 
Fonte: ASCOM COIAB

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